quinta-feira, 19 de maio de 2016

Desperdício

  Já parou pra pensar? Eu particularmente não paro para pensar, geralmente penso enquanto faço algo, enquanto me movo, tomo banho, como, ou faço qualquer coisa que não exija grande concentração.
  Mas já parou para pensar quanto açúcar você consome? No decorrer de nossa história, o homem primitivo caçador-coletor vivia sua vida na eterna busca da sobrevivência. A gordura era uma fonte de energia muito útil, uma vez que tal pessoa naquela época gastava muita energia para caçar e se locomover - e poderia ficar dias sem encontrar alimento satisfatório. Frutas com bastante frutose eram as preferidas, pois também davam longas doses de energia. Mas ainda nesse ritmo, o homem primitivo não consumia níveis de açúcar como consumimos hoje.

  Nosso cérebro se acostumou a achar o açúcar bom, pois sempre o encarou como energia, e sempre como uma necessidade, de um mundo onde achar comida é difícil. Porém o mundo mudou, e com ele veio as revoluções industriais. "Achar" açúcar nunca foi tão fácil. Produzimos toneladas disso por mês. Podemos comprar quilos de açúcar no mercado. Se o homem primitivo visse isso, acharia que estava no paraíso, e com razão.
  Açúcar é tão bom para nosso paladar que o consumimos bastante, mas nosso corpo não está preparado para essa quantidade toda. Talvez no futuro, com milhares de gerações pra frente, nossos corpos se adaptem ao novo paradigma, mas não ainda.

  Eu consumo muito açúcar, em especial no café. Consumo mais açúcar que todos os caçadores-coletores de uma tribo consumiram durante toda a vida, e nem tenho o gasto de energia que eles tem. Também consumo mais água do que muita gente com sede na áfrica, e muito mais comida. Consumo mais energia elétrica que muitos por aí, e também tenho mais tempo livre que trocentos trabalhadores-escravos da china.
  Já consumi muito mais informação que um Rei na idade média, e já tomei mais banhos que um pintor renascentista. Já assisti mais filmes que os irmãos Lumière e escutei mais músicas que Aristóteles.

  Isso não faz de mim especial. Muitos de minha era fizeram muito mais coisas que eu já fiz, e além. Mas o que me incomoda é que outras pessoas fizeram muito mais coisas com muito pouco. Com muito menos açúcar no sangue, consumindo menos água ou comida, tomando menos banhos, escutando menos músicas ou vendo menos filmes. Com menos tempo livre e menos energia elétrica. Já eu, vivo no luxo, e não aprendi a valorizar. Vivo no paraíso, e o paraíso me tornou fraco para o mundo, relaxado.
  Estou desperdiçado minha vida, tendo o potencial para fazer muito mais do que muitos podiam.
  O que falta? Dedicação, disciplina ou iniciativa? Açúcar certamente que não é.

Um comentário:

  1. Como diz a historinha do mestre Zen que afogou seu discípulo, falta ânsia completa e absolutamente unidirecionada. "Quando você desejar tanto a iluminação quanto deseja ar em seus pulmões..."

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