terça-feira, 10 de maio de 2016

Teoria da 'pilha-tempo'

  Vasculhando memórias de minha infância, percebo um evento de menor significância, mas que hoje me faz pensar bastante. Em algum natal esquecido (eu acho), eu e minhas primas ganhamos um 'pianinho' de presente de algum parente em comum - ou nossas mães combinaram de dar o mesmo item. Não importa, fato é que eu e elas tínhamos aquele piano. O troço tinha seu tecladinho, que funcionava até bem, e um monte de outros botões coloridos com figuras de animais, que quando se apertava, saia o som de vaca e galinha. Havia um botão maior que os outros também, que quando se apertava o piano produzia uma melodia pré-programada, que se não me engano era a música do "Seu lobato tinha um sítio...". Hoje penso o quão infernal era três crianças tocando isso o dia inteiro pela casa. Vai ver é o motivo de eu ter "perdido" o piano - e com ele minhas habilidades musicais. Poderia me tornar um Mozart da vida, mas foi arruinado.

  Onde quero chegar é: Certa vez, minhas irmãs, que são mais velhas que eu, decidiram fazer um experimento científico envolvendo meu piano com o da minha prima. Elas iriam apertar o botão maior, que tocava "seu lobato" ao mesmo tempo, e esperar pra ver o que acontecia. Com um pouco de treino, chegou o momento em que elas conseguiram alinhar o som, tornando a música tocada pelos dois pianos um unissomo. Só que algo engraçado acontecia: depois de uns dez segundos de música, os pianos perdiam a sincronia, e um deles ficava atrasado em relação ao outro. Isso nos dava gostosas gargalhadas (não sei porque) e vivíamos a repetir o feito. A explicação que nos foi dada na época era a mais óbvia: que a pilha de um dos pianos estava mais fraca, isso fazia com que a música fosse se atrasando em micro-segundos, e deixando a melodia mais pra trás em relação à outra. Nunca chegamos a testar essa hipótese (comprando pilhas novas para os dois pianos e vendo no que dá), mas isso também nem era importante. O piano se atrasava e pronto, era a vida, pra que insistir?

  Mas hoje eu acabo por me pegar pensando no fato. E se não forem as pilhas as responsáveis? E se, na verdade o tempo de um piano corresse diferente do tempo de outro piano? Ora, pela navalha de occam, as pilhas que eram as responsáveis, certamente. Porém minha mente vagueia por universos de possibilidades, e uma pitada de fantasia e LSD não dói (não uso drogas!).
  Se o tempo poderia  correr diferente de um piano para o outro, então poderia acontecer com as pessoas também. E eu sei que isso acontece de verdade, com a teoria da relatividade de Einstein. Acontece com nossos satélites, acontece em aviões... Só que para acontecer é preciso estar em movimento. Os pianos estavam parados. Mas a música (ondas sonoras) se movimentavam... Enfim, acaba que sempre penso que o que eu vejo como 'presente' não é o mesmo 'presente' de outrem. Posso conversar com uma pessoa, mas o que me garante que esse 'momento do agora' para mim não é uma lembrança daquela pessoa, que está no futuro do meu agora lembrando de nossa conversa?
  Ficou confuso, e está tarde. Hora de dormir porque amanhã tenho aula. Mas veja, amanhã para meu agora. Se você ler isso em outra época, já será passado. Maldito seja o tempo, e o sítio do seu lobato!

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