terça-feira, 5 de abril de 2016

Combustível vital

  A vontade: quente, expansiva, rápida e momentânea.
  Assim é o fogo. Em uma explosão, consome tudo em sua volta. Destrói, purifica. E depois se apaga, deixando apenas seus rastros. Em sua natureza, o fogo não contém matéria, ele é plasma, um produto de uma reação com o ar. Da mesma forma, a vontade só brota quando se tem uma ideia em jogo. Ninguém cria vontade do nada, ninguém acorda animado por motivo algum. Todos nós traçamos objetivos com nossa mente para um determinado fim. Projetamos nossa ideia na mente (ar), e com a vontade, nosso fogo, caminhamos em direção a ela.
  O fogo aqui também representa a fagulha espiritual, e esta também se encaixa bem com a vontade. Uma pessoa depressiva, sem motivação, sem fé na vida, perdeu seu fogo. Ela não consegue ver mais propósito em existir, e perde a conexão com aquilo que lhe é mais divino (si mesmo) e fica na escuridão, sem a luz do fogo. Sem vontade, ninguém se move, sem um combustível, ninguém avança. O problema é que nosso fogo é limitado. Há dias que estamos completamente motivados, e há dias que não conseguimos sair da cama. Seria o fogo tão volátil quanto a água? Ou somos nós que não sabemos usar seu potencial?



 O naipe de Paus no tarô.

  No tarô, a vontade, a energia do fogo, é representada pelo naipe de paus. Não é um pau qualquer, é a representação do pênis, do cajado, da torre que tenta alcançar os céus... É sempre a energia posta em movimento, colocada em uma direção. Uma boa representação seria a de uma tocha, que ilumina a escuridão, ou os faróis de um carro iluminando a estrada de noite. Nela, seu carro se lança no desconhecido, mas os faróis iluminam o caminho adiante, sempre a sua frente, impedindo que se choque com algo ou que se desvie do caminho. Assim é a vontade firme, e é por isso que a melhor maneira de se descrever a energia que o naipe de paus representa é firmeza.

  Não é uma firmeza de terra, que não se dobra perante nada. É uma firmeza de fogo, que não importando os obstáculos, ele queima tudo que há de atrapalhar o seu caminho - ou transmuta tudo, como preferir. Um pênis precisa estar firme para o coito sexual, a torre precisa estar firme para não tombar e atingir os céus.
  Com firmeza, você precisa agarrar seus objetivos e seguir em frente até alcança-los. Deve superar todas as barreiras, ir além do que você pode ir, sempre. O fogo não aceita menos que isso. Ele sempre quer ir além, sempre quer ir mais, brilhar mais que a si mesmo.
  Porém, como uma tocha que é acendida, um dia seu fogo apaga. Toda tocha tem seu limite, seu tempo - assim como a tocha olímpica. Ou você muda de tocha, passando o fogo de uma pra outra, ou vai assistir o seu brilho morrer em cinzas.

  Você decide começar um novo projeto, e determina um prazo para a conclusão. Os dias se passam, semanas, meses... E seu projeto cai no limbo. Ou você provoca um 'renascer das cinzas' nele, ou jamais o terá novamente.

Como burlar a segunda lei da termodinâmica?

  Gosto de comparar essa lei física com alguns fatos da nossa vida. Um carro normal tem um baixo aproveitamento de seu combustível. Em geral, só uma parte vira energia para mover o carro, o resto se perde em calor e é descartada. Nosso corpo apresenta os mesmos problemas: todo dia comemos, e todo dia vamos ao banheiro. Aproveitamentos muito pouco dos nossos alimentos, com uma pequena parte virando nutrientes, o resto vira gordura ou é excretado. Uma tela intensificadora usada em radiologia tem os mesmos problemas. Ela precisa converter fótons de raios-x em fótons de luz visível, mas no processo pode perder em muito a qualidade da imagem final.

  E assim caminha a humanidade. Todo dia estamos acordados fazendo diversas coisas, mas quanto dessas coisas são realmente úteis para nós. Desconsidere se alimentar, tomar banho, dormir e outras coisas básicas. Some o tempo restante, e veja que, de vida, nós temos pouco. Esse tempo é utilizado como? Perdemos muito tempo fazendo coisas completamente inúteis, e que tentamos justificar com argumentos do tipo: "Ah, é pra relaxar!"
  É claro que precisamos de um repouso, mas pare e pense quantos 'repousos' você tem ao longo da semana. Poderíamos adiantar aquele trabalho, ou aquele texto para o blog, mas deixamos para depois, pois o que quer que estejamos fazendo de divertido naquele momento, é o mais importante. A curto prazo é mais importante, mas é ao longo prazo?

  Enquanto perdemos tempo fazendo tais cosas, nosso fogo consome nossa tocha, e acabaremos um dia por acordar sem vontade alguma, e culpar a vida por não conseguirmos fazer nada, quando a responsabilidade é sempre nossa.

  A solução não é uma regra absoluta, mas ajuda. Comece acendendo seu fogo em um palito de fósforo, depois de um tempo, passe o fogo para uma vela, e depois, para uma lanterna de óleo. Depois uma tocha, e depois uma pira. Cada vez terá mais fogo, e cada vez demorará mais para se extinguir. Na prática, você deve sempre começar com seus objetivos bem devagar. Não mire nas estrelas primeiro, se preocupe em construir seu foguete. Sempre um passo de cada vez, e assim que concluir um passo, passe para o outro.
  Se você quer se tornar o mestre em desenhar, não tente de cara fazer um desenho perfeito do rosto de alguém, pois a inevitável falha vai te frustrar. Comece com esboços simples, e com as conquistas pequenas o seu fogo vai se expandindo, lentamente, até que no fim você verá que ele parece que jamais apaga.

  Devagar é pressa. Sempre expandindo, lentamente, e passando seu objetivo de um degrau menor para outro maior, até que alcance seu propósito final. Só não deixe o fogo apagar, pois assim você terá que começar tudo outra vez.



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