domingo, 6 de setembro de 2015

Da natureza do medo

Texto publicado originalmente no extinto blog do Franco-Atirador, do Lúcio Manfredi.

É uma introdução sobre a imaginação, o medo, e a capacidade de algo abstrato transformar seu universo por completo.

Mito, Crença, Fé e Acredite Se Quiser

Da introdução de Stephen King à coletânea Pesadelos e Paisagens Noturnas:

Quando eu era garoto, acreditava em tudo que me diziam, em tudo que lia, em todas as mensagens recebidas de minha própria imaginação extremamente fértil. Isso me causou muitas noites sem dormir, mas também encheu o mundo em que vivia de cores e texturas que não trocaria por toda uma existência de noites tranqüilas. Você precisa entender que, já naquela época, eu sabia que havia no mundo pessoas, na verdade muitas delas, cuja capacidade imaginativa estava dormente ou completamente morta e que viviam num estado mental equivalente ao daltonismo. (...)
(...) Foi no Acredite Se Quiser que comecei a ver como a linha entre o fabuloso e o corriqueiro podia ser bastante tênue e a entender que a justaposição dos dois contribuía tanto para iluminar os aspectos comuns da vida quanto para iluminar seus ocasionais surtos bizarros. Lembre-se de que aqui estamos falando de crença e que a crença é o berço do mito. Você pode perguntar: e a realidade? Bem, no que me diz respeito, a realidade pode ir para o quinto dos infernos. Nunca dei muita bola para a realidade, pelo menos no meu trabalho escrito. Na maioria das vezes, ela está para a imaginação como as estacas de madeira estão para os vampiros.
Acho que mito e imaginação são, de fato, conceitos intercambiáveis e que a crença é a fonte de ambos. Crença em quê? Para dizer a verdade, penso que náo tem muita importância. Um deus ou muitos. Ou que uma moeda de dez centavos pode descarrilar um trem de carga.
(...) O que é fundamental continua a ser válido com o passar do tempo e para mim o objetivo não se modificou: o trabalho continua sendo chegar até você, Leitor Fiel, prendê-lo pelos cabelos e, espero, meter-lhe tanto medo que você não conseguirá ir dormir sem deixar acesa a luz do banheiro. Continua sendo uma questão de, primeiro, ver o impossível... e depois, traduzi-lo em palavras. Continua sendo fazer com que você acredite no que eu acredito, pelo menos durante algum tempo.
Não falo muito nisso porque fico encabulado e soa pomposo, mas continuo vendo as histórias como uma coisa importante, algo que não só realça as vidas, mas na verdade as salva. Nem estou falando metaforicamente.

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