quinta-feira, 4 de junho de 2015

A corte dos vermes imundos.

O samurai urbano se vê na rua, sozinho, no frio e no calor.  Sua armadura feita com escamas de caranguejo, e sua força vindo do mais poderoso imperador... Ele anda no meio de vermes, aqueles seres gosmentos, que embora pareçam maiores que ele, são mais podres e mais deploráveis.

O samurai senta ao chão com eles, come com eles, bebe com eles, mas de suas bocas só sai groselha enlatada, pronta pra ser degustada por ratos e criaturas dos bueiros. O samurai nada fala, nada faz. Apenas observa em silêncio. Sua katana, chamada "Crítica", está embainhada.

Os vermes, por sua vez, atacam uns aos outros. Todos ficam competindo pra ver quem está certo, que é mais belo, quem "zoa" mais o outro, quem é o "macho alpha". O samurai percebe o clima, percebe o medo entre eles. Os vermes não compreendem, mas o samurai sim. Entre eles há o medo. Não o medo dos heróis, na hora de enfrentar seu Dragão, seu maior desafio, mas o medo dos covardes, o medo dos cachorros, quando veem algo assustador.

O medo de ser menor, ser o mais fraco, de ser zoado e humilhado. O medo do Ego, o medo do verme.
É uma luta terrível, luta de palavras, de diálogos. E no meio da luta, uma deusa passa por perto. Uma mulher linda, com o corpo coberto de mel, que faz os vermes babarem... A deusa caminha longe, e nem olha para os vermes, e tão pouco para o samurai. Mas ainda assim os vermes a endeusam, a glorificam, como um pedaço de carne ambulante, sem perceber sua essência, seu brilho, seu amor. Para os vermes, a deusa é apenas um tesouro a ser conquistado, nada diferente de suas migalhas que os vermes tem.

O samurai apenas observa; ele vê a beleza da deusa, mas por ter conquistado certa sabedoria, sabe que o que importa da ostra, no fim, é a pérola.

Mas como explicar para os vermes?
O samurai tenta, várias, várias vezes. Mas os vermes riem dele, e suas risadas exalam um bafo asqueroso, que faz o samurai se calar novamente.
O samurai pensa que é uma batalha inútil. Vermes são vermes, vermes jamais entenderão o cantar de um pássaro, ou a dança da realidade. Mas o samurai é teimoso, e ainda tenta, mas de nada adianta.

Um verme grita pra todos, pra provar que é mais forte, o verme fala alto, berra. O verme ataca verbalmente todos, mas no fundo, é o mais fraco, e só quer um espaço, um momento pra ser especial. O samurai sabe.
Outro verme é O verme. Ele se vagloriza, se orgulha de ser verme, e acha que todos tem que ser vermes igual ele. Ele não conhece outra natureza, que não seja ser verme, e o samurai apenas o observa, sem falar.
O verme maior bate no peito, se achando o máximo, mas todos o atacam, e ele fica sem ação. Seu histórico é de glórias entre os vermes, mas o samurai sabe, que no fundo, ele jamais quis ser verme, mas como não há escolha, ele é.

Pois assim é o mundo dos vermes, o samurai pensa: Os vermes não tem vontade, não sabem o que querem. Não há escolha para os vermes, exceto ser verme.

Há um, no entanto, que não és verme. Este já construiu seu casulo e virou um inseto nobre: uma borboleta, digna dos céus. É um passo, e mesmo uma borboleta pode provocar tempestades.
Mas são os vermes que incomodam o samurai.

O samurai pensa em abandonar os vermes. Sua natureza não é ali, nunca foi. Mas ele sabe que estar com os vermes é uma afirmação de que ele é um samurai, e a única maneira de saber que ele é um samurai, e não um verme, é andando entre os vermes. Suas diferenças ficam evidentes.

O samurai se levanta. Ali ele é um estranho no ninho, não é um verme. E por causa disso, é atacado. Os vermes o criticam, tentam fazer dele um verme também, mas o samurai sabe quem és.

O samurai se levanta, e sai.
Sabe que voltará para a companhia dos vermes, mas até quando?

(baseado em fatos reais)

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