O Ladrão se esgueira furtivamente pelo
universo. Uma mistura de Nada e Tudo dançando ao seu redor. Ele não sabe onde
está, mas sabe exatamente para onde está indo.
Em algum instante de sua jornada, um instante insignificante, onde o Ladrão estava perdido em devaneios, ele se depara com um deserto. O Ladrão não sabia que deserto era aquele, nunca ouvira falar dele, mas ainda assim o Ladrão continua a caminhar pelo deserto.
Em algum instante de sua jornada, um instante insignificante, onde o Ladrão estava perdido em devaneios, ele se depara com um deserto. O Ladrão não sabia que deserto era aquele, nunca ouvira falar dele, mas ainda assim o Ladrão continua a caminhar pelo deserto.
O deserto em si é bastante curioso. Não é
quente como os outros, nem frio; no deserto apenas venta, e muito. Há dunas
altas como montanhas e planícies vastas como campos. Nada parece real naquele
deserto, tudo parece se modificar, se fazendo e se desfazendo a cada instante,
a cada piscar de olhos, a cada respiração.
Confuso com a metamorfose do lugar o Ladrão
continua marchando, procurando algum ponto de referência. Suas botas não são
apropriadas, nem suas roupas: aquele deserto não era seu objetivo final, mas
estranhamente ele sentia algo familiar. Então o Ladrão continuava a caminhar.
Desbravando lentamente as areias que insistem em cair em seus olhos e cabelos, o Ladrão mantém sua marcha. Há momentos em que sente profundo cansaço, mas suas pernas insistem em continuar, como se elas tivessem a certeza de saber aonde ir. Elas insistem em levá-lo para longe, um passo de cada vez, como as badaladas de um sino, como o tic-tac de um relógio.
Desbravando lentamente as areias que insistem em cair em seus olhos e cabelos, o Ladrão mantém sua marcha. Há momentos em que sente profundo cansaço, mas suas pernas insistem em continuar, como se elas tivessem a certeza de saber aonde ir. Elas insistem em levá-lo para longe, um passo de cada vez, como as badaladas de um sino, como o tic-tac de um relógio.
O Ladrão julga ver algo, mas por se tratar de
um deserto ele acha que é uma miragem. Mesmo assim ele direciona suas pernas
para o local. A miragem cresce a cada passo; e o Ladrão fica cada vez mais
surpreso com o que vê.
Relutante em acreditar em seus próprios olhos ele vê: um velho sentando em um banco, no meio do deserto.
Relutante em acreditar em seus próprios olhos ele vê: um velho sentando em um banco, no meio do deserto.
***
Neste ponto da narrativa eu pretendo fazer
uma pausa. É uma pausa curta para situar o leitor do universo deste conto.
O Ladrão é um ser. Não um ser humano, mas apenas um ser. Não sabemos o que ele é exatamente, mas a primeira vez que o conheci ele me foi apresentado como uma idéia. Essa idéia em si foi se desenvolvendo, ganhando forma e personalidade. Dei a ela o nome de ‘Ladrão’, por achar apropriado, por sua natureza.
O Ladrão é um ser. Não um ser humano, mas apenas um ser. Não sabemos o que ele é exatamente, mas a primeira vez que o conheci ele me foi apresentado como uma idéia. Essa idéia em si foi se desenvolvendo, ganhando forma e personalidade. Dei a ela o nome de ‘Ladrão’, por achar apropriado, por sua natureza.
Ora, veja bem: Eu sabia o nome da idéia, mas
não sabia nada a seu respeito. Então eu, como um bom escritor, questionei essa
idéia, sua origem e objetivo.
Não pretendo transcrever aqui todo o rico diálogo que tivemos, pois seria cansativo demais para o leitor. Tudo que preciso que saiba é que o Ladrão está em uma missão; sua missão é roubar um valioso tesouro de um velho, que por uma incrível coincidência ele acaba de encontrar no deserto.
Não pretendo transcrever aqui todo o rico diálogo que tivemos, pois seria cansativo demais para o leitor. Tudo que preciso que saiba é que o Ladrão está em uma missão; sua missão é roubar um valioso tesouro de um velho, que por uma incrível coincidência ele acaba de encontrar no deserto.
Portanto, sigamos com a narrativa.
***
O Ladrão se aproxima relutante, ainda não
acreditando na sua incrível sorte de encontrar o velho em um local inesperado.
Mesmo com suas vastas habilidades de furtividade o velho acaba detectando o
pobre Ladrão (que inutilmente se escondia atrás de um cacto bebê).
O velho vê a frustrante tentativa de camuflagem do Ladrão; o velho até mesmo ri daquilo. Mas com algum carisma inexplicável o velho convida o Ladrão a se aproximar. Sem ter como resistir, o Ladrão vai.
O velho vê a frustrante tentativa de camuflagem do Ladrão; o velho até mesmo ri daquilo. Mas com algum carisma inexplicável o velho convida o Ladrão a se aproximar. Sem ter como resistir, o Ladrão vai.
Curiosamente o velho segura em suas mãos uma
peneira. Com um pouco de habilidade que sobrara de seus dias de juventude o
velho pega um punhado de areia do deserto e a faz jorrar pelos dedos, passando
suavemente pelos pequeninos buracos da peneira. O Ladrão observa a cena. Ele vê
que no momento em que a areia atravessa o buraco, o sol reflete em seus
cristais, dando à areia um tom dourado. Antes que a areia atravessa e depois
que a areia atravessa a peneira esse fenômeno não ocorre.
- Quem é
você? – questiona o Ladrão, mesmo sabendo com que estava falando.
- Ora meu
jovem Ladrão, você sabe quem eu sou. – responde o velho. – Eu sou aquele que
sempre está aqui. Aqui e agora.
- Somente
Deus está ‘Aqui e Agora’. E você não é Deus.
- Não. Não
tenho natureza divina, sou antes desse fato. Eu sou aquele que todos lutam a
vida inteira, mas que jamais poderão vencer; eu sou aquele que corre pra todos
os lados e que jamais poderá ser preso; eu sou aquele que existe antes e que
existirá depois, mas que ao mesmo tempo nunca existiu. Eu sou o Tempo. E quem é
você, meu jovem?
- Eu sou o
Ladrão.
- Eu sei
que és. Se chama assim porque veio roubar algo que me pertence.
- Vim. Não
importa o que faça velho, forças superiores me deram a ordem, eu vou roubar,
não há nada que você possa fazer para impedir. Está escrito.
- Há algo que
posso fazer: Posso te dar de presente. Um presente não é um roubo, não é? Suas
ordens foram pra roubar, não pra ganhar.
O Ladrão pareceu confuso, mas ao pensar sobre
ele viu que o velho tinha razão. O velho, por sua vez, continuou fazendo jorrar
a areia através da peneira, de uma maneira quase mecânica.
Foi então que o Ladrão lembrara outra vez do deserto:
Foi então que o Ladrão lembrara outra vez do deserto:
- Velho, me
disseram que eu lhe encontraria em um mar. – disse o Ladrão.
- Todo
deserto um dia foi um mar e todo mar um dia será um deserto. É apenas questão
de tempo. – disse o velho.
- Me
disseram que lhe encontraria em outra forma.
- O que
disseram foi verdade. Quando aqui era um mar eu era uma tartaruga, mas como
aqui é um deserto eu sou um velho garimpeiro.
-
Garimpeiro?
- Sim,
garimpeiro.
- Você
procura ouro nesse deserto? Você é um velho tolo!
- Você
procura o mesmo...
- Então o
seu tesouro é ouro?
- Sim. Você
veio para rouba-lo.
- O senhor
sabia que eu viria?
- Sim. Isso
já aconteceu. Vai acontecer um dia e está acontecendo agora.
- Então me
dê. Me dê o ouro!
- Vai
querer como presente ou vai me tirar à força?
- À força.
Então o velho se virou para o Ladrão e fitou
seus olhos (pois o velho jamais parara de fazer jorrar a areia pela peneira).
- Então
você terá que me matar. Somente assim conseguirá o que quer. – disse o velho.
Por um
instante o Ladrão questionou consigo mesmo se esse seria o ato correto, mas
logo que os pensamentos lhe fugiram ele sacou a sua adaga que estava presa no
cinto e cortou a garganta do velho.
O sangue escorreu para todos os lados, penetrando nas areias em volta, formando pequenos rios vermelhos para todas as direções. A peneira fora jogada de lado e a areia parou de jorrar.
O sangue escorreu para todos os lados, penetrando nas areias em volta, formando pequenos rios vermelhos para todas as direções. A peneira fora jogada de lado e a areia parou de jorrar.
O Ladrão olha para o velho, tendo pena de seu
destino e imediatamente depois ele o saqueia.
Só encontra uma coisa entre suas roupagens: uma caixa. Não era uma caixa qualquer, o Ladrão reconhecera a caixa. Era uma caixa de presente.
Só encontra uma coisa entre suas roupagens: uma caixa. Não era uma caixa qualquer, o Ladrão reconhecera a caixa. Era uma caixa de presente.
Na tampa da caixa estava escrito: ‘Para o
Ladrão; do seu amigo, o Tempo’.
Surpreso por ter sido enganado, o Ladrão
chuta a areia a sua volta. Com raiva ele grita aos ventos dançantes do deserto.
Ele pega a sua própria adaga (que também ganhara de presente) e arremessa para
longe de si.
Depois de se concentrar e respirar profundamente, ele para. Observa uma última vez o velho, a peneira e a areia que jamais voltará a fluir. E pensa que, em todo caso, sua missão estava cumprida.
Depois de se concentrar e respirar profundamente, ele para. Observa uma última vez o velho, a peneira e a areia que jamais voltará a fluir. E pensa que, em todo caso, sua missão estava cumprida.
Só havia um porém: O item não era roubado,
era um presente. Portanto, o seu empregador não o merecia, o presente era dele,
de mais ninguém.
Sentindo a sede morder seus lábios, ele observa a caixa com a fita vermelha balançada pelo vento diante de si. O presente era dele, afinal. Somente dele. Se fosse um roubo o objeto seria do seu empregador, mas como era um presente para ele...
Sentindo a sede morder seus lábios, ele observa a caixa com a fita vermelha balançada pelo vento diante de si. O presente era dele, afinal. Somente dele. Se fosse um roubo o objeto seria do seu empregador, mas como era um presente para ele...
Sem esperar mais tempo o Ladrão rompe o lacre
e fita o interior da caixa. O que ele vê é nada mais nada menos do que a areia
fluindo pela peneira.
Foi só ai que ele sente o seu corpo, sente suas pernas, sente seus dedos tocarem a caixa. Sente seus pés afundarem na areia do deserto, seu pulmão respirar o vento forte. Ele sente seu coração bater a cada segundo, ele sente que está vivo.
Foi só ai que ele sente o seu corpo, sente suas pernas, sente seus dedos tocarem a caixa. Sente seus pés afundarem na areia do deserto, seu pulmão respirar o vento forte. Ele sente seu coração bater a cada segundo, ele sente que está vivo.
O Ladrão finalmente entende o significado do
presente.
Não é passado, não é futuro: é agora.
É tão simples como transformar chumbo em ouro.
É tão simples como transformar chumbo em ouro.
***
Não é o papel do escritor explicar o
significado dessa fábula. Se o leitor não a entendeu, então eu o convido a ler
novamente, mas em outro momento. Por enquanto descanse e medite no que acabou
de ler. Aqui jaz um conhecimento muito rico, que um dia lhe pode ser útil.
***
Preciso que alguém me ajude a intender este texto , porque eu quero intender !
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